quarta-feira, 1 de junho de 2011

Hoje é dia da criança

E veio-me à cabeça um dos momentos mais dificeis para mim na minha infância. A minha vida depois desse momento mudou completamente, a minha maneira de ver as coisas mudou e para mim já nada tinha importância, senti que podia fazer o que quisesse porque mais baixo não conseguiria descer.
Sempre amei muito os meus pais, mas tinha uma adoração e admiração especiais pelo meu pai. Para mim ele era o meu herói. Adorava sentar-me ao colo dele nas manhãs de domingo a ver o programa dos animais com ele, sentia-me tão bem que ainda hoje sinto um apertozinho no coração de tão bem que sabia! E desde pequena que cresci com muitas espectativas em cima de mim. Porquê? Porque eu era a maria-rapaz que tinha sempre resposta na ponta da lingua pra tudo, eu era a menina que na escola batia aos míudos e jogava à bola. Eu era a menina que preferia estar com os meninos do que com as meninas. E aos olhos do meu pai, eu era a menina que nunca ninguém iria conseguir enganar ou fazer mal, porque eu sabia bem defender-me. Acho que o que eles queriam para mim era uma vida como a que a minha irmã tem hoje, chamada de "normal" e tudo dentro dos parâmetros a que todos chamam normal. Mas desde criança que sempre fui diferente para a minha idade, e isso nunca mudou.
E fui fazendo a minha vida, feliz porque também era um orgulho para o meu pai, não era só a minha irmã. Mas isso mudou...tão rápido que só me apercebi quando ouvi aquilo da boca do meu pai.. A primeira vez que ele me disse algo que mesmo me magoou foi quando arranjei um namorico. Coisas própria da idade, mas como a  minha irmã nunca tinha tido um namorado até aos 16/17 anos, eles não esperavam que eu o fizesse tão cedo. E como eu não via mal nenhum nisso, não escondi de ninguém. E ele foi à minha procura, mandou-me para casa e quando lá cheguei tinha à espera uma sova das grandes. Ainda me lembro de no meio da confusão olhar para o meu pai e ver a cara dele... cheia de raiva. Raiva de mim, de eu não ter feito as coisas como ele queria, e percebi que estava triste comigo. E no dia seguinte ele chamou-me e falou comigo, e no meio da conversa disse-me "andas a envergonhar o pai". Parei. Acho mesmo que congelei. O quê?! O meu pai tinha-me tido que tinha vergonha de mim.... fechei-me no quarto e juro que até fiquei doente. Foi uma das primeiras vezes que tive uma dor de cabeça tão grande que sentia o meu corpo a afundar-se no colchão. Mas passou... até ao dia em que houve novamente confusão. Já não me lembro bem porquê, apenas me lembro do momento que o ouvi dizer "És uma grande desilusão". Talvez ele já não se lembre, ou lembre-se e nem saiba porque o disse, mas eu lembro-me tão bem da tristeza que senti naquele momento!!! Tento lembrar-me do que se passou desde que ele me disse ter vergonha de mim até este momento, mas não me lembro, parece que essa parte da minha vida se apagou. Mesmo com muita força para me lembrar, não consigo. Apenas me lembro das palavras dele, e de ficar com as pernas a tremer. Eu era uma desilusão para o meu pai. Ele tinha vergonha de mim. E a partir daí nunca mais quis saber de nada. Para quê estudar e continuar a ser bem comportada se já sou uma desilusão para os meus pais? Pra quê tentar ser melhor se já têm vergonha de mim?? Não valia a pena. Deixei de me importar com tudo. E acredito que foi neste momento que a minha vida e quem eu era mudou, deu uma reviravolta de 360º. Da menina bem comportada e com notas máximas, passei a ser uma autêntica adolescente enraivecida e descontrolada, e com notas das mais baixas. E nunca tinha percebido qual tinha sido o momento da reviravolta, o momento em que me perdi e deixei de me importar com tudo. Mas hoje eu sei qual foi. Foi o momento em que ouvi "andas a envergonhar-me", "és uma grande desilusão".E posso mesmo dizer que foram as palavras que mais me magoaram até hoje. E passei a ser uma miuda tão revoltada que cheguei ao ponto de dizer uma das coisas que mais me arrependo de ter dito à minha mãe "quem me dera ter outra mãe". Dava tudo para voltar atrás e não ter dito isto à minha mãe, porque se tivesse tido outra, hoje de certeza que estaria muito mal na vida. E foi ela que sempre me ajudou e me deu apoio. E uma nova guerra voltaria a acontecer. Uma suposta minha amiga foi dizer coisas a quem não devia, e no espaço de horas a cidade toda dizia que eu estava grávida. Nem quis acreditar quando a minha irmã me perguntou se era verdade. Grávida, eu?! Por obra e graça do espirito santo, só pode!! E pensei nesse momento "mais uma coisa para os meus pais se envergonharem de mim...". E isto só veio piorar a minha situação. Comecei a ser olhada de lado, a distanciar-me de todos, na escola ficava a um canto sozinha e nas aulas tinha ataques de furia que me faziam sair da sala aos gritos e a chorar. Tive de abandonar a escola, com uma depressão em cima. E o psiquiatra só me soube entupir de comprimidos, e depressa me fartei das dores horriveis que eles me davam. Hoje estou muito melhor, juntei os meus trapinhos e tenho uma relação boa com os meus pais. Sei que não sou propriamente o orgulho deles, e que não era isto de certeza que eles queriam para mim, mas já é bom poder falar com eles sem acabar numa discussão.

E atenção que não estou a tentar culpar os meus pais, não! De maneira nenhuma! Tudo o que fiz fui eu que decidi fazer, e eles apenas foram sinceros comigo. É certo que me magoou, mas fui eu que me pus nessa situação, é por minha causa que eles não têm o orgulho que tinham por mim.
E peço-lhes desculpa por tudo o que lhes fiz. Porque afinal, mesmo que o meu pai me tenha mudado com as suas palavras, foram essas mesmas palavras que me fizeram ser quem sou. Mudei no dia em que ele as disse, e tornei-me no que sou agora, e até sinto um pouco de orgulho por mim, porque sei que consigo ser independente deles e de lhes mostrar que mesmo que eles não tenham orgulho em mim, eu podia ser uma mulher revoltada e muito má pessoa, e não sou. Considero-me uma mulher, forte e com a teimosia de pequenina. E isto também serviu para mim como uma lição. Nunca vou dizer a um filho meu tais palavras. Nunca o vou fazer sentir como me senti. Nunca ninguém deviria de ouvir o que eu ouvi, nem sentir o que eu senti.

Mas lembranças à parte, um beijo para todas as crianças e um dia muito feliz, que hoje é o vosso dia!

4 comentários:

Mãe Guerreira disse...

Bme que coisas tristes! Mas olha o meu nunca quis saber de mim e quando me liga diz q qer fazer um teste de ADN LOL
E tens que ter ogulho em ti em tudo o que faças, seja bem ou menos bem, pois fizeste!!!
Eu tenho orgulho em mim, se nao tiver mais ninguem tem!
Valoriza-te enquanto mulher!
Estou junta desde os 18 anos e com altos e baixos neste momento sei e orgulho de poder dizer, que sao raras as que hoje em dia estao no mesmo barco que eu, que com 19 anos, ja tnho casa, marido, responsabilidades que muitas nao têm e felizmente nao falho nenhuma! por isso orgulhate de tares com alguem e lutares pela vossa vida :)

E feliz dia da criança porque em nos fica sempre algo da nossa infancia e por má que seja as mais felizes teem que ser superiores as menos felizes okai??
beijinhos muito grandes :)
qualquer coisa estou aqi

Mãe Guerreira disse...

tambem espero que sim xD
gostava de pder dar ja essa noticia xD
nesse dia serei uma mulher realizada :D
em breve direi :P

Mãe Guerreira disse...

Podes crer que somos Mulheres xD
E felizmente com altos e baixos temos conseguido, sem esforço nada se tem e consegue :D

Mas pronto!

Beijinhos :)

Kristianna disse...

Bem, nao è facil...e certamente o teu pai hoje, ja se arrependeu milhares de vezes de o ter dito...mas pensa, que tudo isso te fez crescer compo pessoa...como ser humano...e te faz tornar na pessoa que es hoje!!!

Ha males que veem por bem!!

Beijinho enorme, e aproveita bem as ferias!!!